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Sejam bem-vindos ao espaço onde através da brincadeira e do conhecimento nos expandimos como seres humanos. O local onde a Família não se resume aos laços de sangue mas essencialmente aos laços do Coração.



Breve reflexão sobre o filme «Orgasmic Birth»

16 novembro, 2010
por Catarina Rodrigues

Numa época dominada pelo conceito «fast», urge repensar a vida numa óptica de equilíbrio e de reencontro com o ritmo próprio, com o tempo para o conhecimento do corpo, dos pensamentos mais profundos, discernindo valores pessoais e desmistificando crenças arreigadas pela ignorância (traduzindo falta de conhecimentos) e por um tipo de pensamento social, vulgo «de massas», que se deixou de questionar. É mais cómodo e menos perigoso agir de forma aceite e comum a toda a sociedade… mesmo que isso implique uma violência ao nosso ritmo e, muitas vezes, à nossa saúde.

Não estou a pensar apenas nas questões da gravidez e do parto… Estou a pensar na nossa alimentação, na correria que é a vida profissional e muitas vezes até a vida pessoal, estou a lembrar-me do foco que agora existe num sucesso rápido (onde antes se via um percurso de uma vida de labuta), e como a depressão emerge da sensação de incapacidade para se alcançar esse sucesso num período cada vez mais precoce das nossas vidas. Estou a pensar em como há tantas questões que não são colocadas ou criticadas porque “todos fazem assim”… ou porque se demonstrou cientificamente que se deve agir assim. Contudo, a ciência não é uma disciplina finita, no sentido em que o saber científico da nossa época encerra toda a verdade. A evolução humana – que tanto nos vai surpreendendo ao longo dos tempos – evidencia-nos precisamente isso: o saber é dinâmico, no sentido que se vai transformando, evoluindo, adaptando às novas descobertas e modos de pensamentos de cada época.
Bom, mas não me quero perder em reflexões… Gostava de realizar algumas considerações a propósito do filme que a doula Carla Silveira trouxe ao Fórum Ipsilon e considerem as palavras atrás como um prelúdio, ou seja, o enquadramento que envolve as minhas palavras.
Nunca na minha vida até muito recentemente tinha pensado com seriedade na questão do parto natural, entendendo por este a não necessidade de ir para a Maternidade ou, indo, não ser necessariamente obrigatório recorrer a ferramentas médicas como a epidural, etc. Do parto natural tinha o conhecimento vulgar veiculado pela família e pelos filmes. Estes últimos passando uma imagem de perigo e de morte associada ao parto. Para mim, até agora, era como se o parto natural e em casa fosse uma prática ancestral que deixara de fazer sentido no estado actual dos conhecimentos científicos. Ou seja, obsoleta. O normal/natural agora era o parto na maternidade, deitada numa maca, ligada a máquinas e a soro, assistida por uma enfermeira e pelo médico e com a possibilidade, recente, de ser acompanhada pelo marido. Creio que esta é provavelmente a imagem/ideia que a maioria tem…
Até que uma amiga minha me disse que ia fazer o parto em casa. A minha mente ficou perplexa! Não é perigoso? É possível?
Foi nesta perspectiva de enriquecimento que convidei a doula Carla Silveira a apresentar a sua perspectiva aqui no Fórum Ipsilon. Mais e diferentes conhecimentos são sempre benéficos.

Pensar num parto natural em casa, acompanhado por uma doula, por uma parteira e por pessoas da confiança da mulher, não é um acto de coragem face às mulheres que vão para uma maternidade. Nada disso. A meu ver, tratam-se ambas de opções válidas. A escolha de uma ou de outra tem a ver com a maneira de encarar a vida, o corpo, a gravidez e o parto. Trata-se do facto de cada mulher pode optar por um parto que lhe dê segurança e tranquilidade, que lhe assegure que está a fazer o melhor que sabe pelo seu filho que vai nascer. O caminho que é o melhor para uma pessoa pode ser agressivo e perturbador para outra. Nenhum é melhor do que o outro. São diferentes e respondem a necessidades psicológicas diferentes.
O facto de estarmos bem informados e sabermos das várias alternativas para a nossa vida é importante… pois permite-nos sair do “rebanho”, pensar por nós próprios e, se assim o desejarmos e fizer sentido, voltar ao rebanho, mas agora consciente e responsável por essa decisão. Aliás, aquilo que considerei fundamental no visionamento deste filme foi o facto de abrir a mente para cenários alternativos ao habitual… e permitir, desta forma, interrogar e agir sobre o habitual no sentido de o melhorar.
Um cenário interessante remete para a possibilidade de construção de uma casa perto das maternidades onde as grávidas podem estar até ao momento do parto, num ambiente acolhedor e tranquilo, onde não são invadidas pelos constrangimentos de um ambiente médico e podem ir preparando o nascimento do seu filho ao seu ritmo, centradas em si e nas transformações físicas que, ao longo do tempo, vão ocorrendo e que as vão preparando, bem como ao bebé, para o momento da expulsão.
Quero agradecer à Carla Silveira por ter trazido este filme e a todos os participantes pelas suas contribuições para a reflexão sobre a gravidez, o parto e a questão de nos centrarmos nos nossos instintos mais básicos e confiarmos no nosso corpo, na nossa competência em “dar à luz”, desde que seguras, tranquilas, conhecedoras de nós e confiantes naqueles que nos rodeiam.
Ajudar o bebé a nascer não tem de ser um cenário assustador e terrível. Em casa ou na maternidade, a mulher pode sentir-se competente e confiante nesta sua função, transformando o momento do nascimento num momento de grande contacto íntimo consigo mesma, com as suas competências, um momento de superação de si mesma. Mas é também um momento de grande contacto com o bebé, reconhecendo a ligação que se foi desenhando ao longo de toda a gravidez, reforçando uma relação de colaboração e de confiança mútuas.
Acredito que bem preparada e acompanhada de pessoas que lhe tragam segurança e confiança, a mulher pode superar toda a enorme gama de sentimentos que emergem durante um trabalho de parto: expectativa, alegria, medo, ansiedade. Na maternidade, em casa, no carro dos bombeiros, na ambulância do hospital, o fundamental é que se reconheça este momento como único e especial na vida de uma mulher, que a transforma profundamente: torna-se Mãe.